O que é realização de vida?

30 de agosto de 2019
Por  Alexandrine

Alexandrine Brami é a co-fundadora da maior escola de francês online do Brasil, o IFESP. A Ideia nasceu em 2002, quando Alexandrine veio ao Brasil lecionar Ciências Politicas na USP, USP e FGV. Ela foi encarregada pelo governo francês para fortalecer as relações entre a Sciences Po Paris e suas universidades parceiras no Brasil. Dessa forma, aproveitou a oportunidade para estudar a relação entre Rússia e Brasil, tema do seu doutorado. E assim conquistar sua realização de vida.

Já em 2006, após quatro anos lecionando em São Paulo, os rascunhos do que seria o IFESP começaram a surgir. O instituto nasceu em 2007 com o propósito de realizar o sonho de brasileiros que sonhavam em estudar francês e ir pra França

Hoje, portanto, trazemos um pouco da trajetória da Alexandrine. Uma mulher empreendedora e determinada que conquistou seu espaço no ensino de francês no Brasil. Além disso, conversamos sobre o significado da realização de vida.

 

Quais eram os seus objetivos no início do IFESP?

Alexandrine Brami: Eu era funcionária pública do governo francês, mais precisamente do Ministério da Educação desde 1998. Eu ganhava um salário para estudar na École Normale Supérieure e pesquisar em diversos núcleos de pesquisa. 

Eu tinha escolhido essa profissão justamente pela estabilidade e comodidade, apesar dos salários baixos. Chegando ao Brasil para lecionar Ciências Políticas eu enxerguei muitas oportunidades que nunca tinha imaginado.  No final eu decidi me estabelecer no Brasil. Existia um mercado gigantesco para aulas de francês no Brasil, indo inclusive muito além do idioma.  

A virada para o empreendedorismo veio de forma natural. Num país estrangeiro, o bom é que as crenças muitas vezes acabam sendo desafiadas pela nova realidade, o que nos liberta de certa forma.

Comecei a enxergar que eu poderia ser dona do meu próprio negócio, ter mais liberdade, autonomia e agilidade. Além disso, eu queria arriscar. Na época eu só tinha 25 anos, apesar de ter sido o meu sonho ser funcionária do governo como pesquisadora e professora universitária, eu descobri que eu queria fazer coisas novas, arriscar mais, não ficar no comodismo, aumentar as perspectiva de retorno de dinheiro.

 

Como você manteve a disciplina de continuar no caminho rumo aos seus objetivos?

AB: Em 2006 eu comecei a ter essas duas atividades em paralelo. À noite e de final de semana eu montava os planos para as aulas, criava o logo, ou seja, fazia de forma caseira o meu embrião de negócio. Durante a semana tinha os cursos que eu dava em três universidades e as atividades de pesquisadora, por isso participava do GVCENN o núcleo de pesquisa da FGV-SP especializado em empreendedorismo. 

A chave para eu me manter focada foi a divisão de agenda em dois momentos muito claros, isso funcionou pra mim, pode não funcionar para outro. Além disso, eu me concentrava em cada momento. Então, para ter certeza que final de semana eu ia me concentrar no meu propósito de avançar no business, eu estudava mais sobre como começar um negócio, por exemplo: como montar seu próprio site.

A maioria desses cursos eram online. Logo percebi que eu conseguia focar muito mais e ser mais produtiva quando eu ficava meia hora na frente do meu computador fazendo um curso online, do que quando eu participava durante uma semana de um curso em grupo. Essa foi uma das razões pelas quais nós desenvolvemos um curso online, porque a concentração é muito maior quando você está na frente do computador. 

 

Como você definia as prioridades sem perder o foco?

AB: Planejamento, sem perder o sonho. O que funcionou pra mim foi imaginar daqui a cinco anos o que eu esperava de mim: vou ser autônoma, vou poder ganhar mais dinheiro, vou poder viajar etc. Dessa forma eu projetava e vivia aquilo, eu colocava uma cor, um lugar e deixava bem específico o meu sonho.

Depois de projetado isso tudo, eu anotava os detalhes em um papel e transformava esse sonho em um objetivo. Por exemplo: ser reconhecida como empreendedora de educação, tendo um curso que é reconhecido como excelente, inovando nos processos e na metodologia. Em seguida, eu construía a estratégia pensando no que eu precisava para chegar nesses objetivos em cinco anos. Pra mim foi muito claro que logo no início eu precisava montar o curso diferente e inovador, com foco em resultados rápidos e medição de progresso. 

Outro ponto muito importante é saber quem vai consumir o seu produto. No meu caso eu já conhecia muito bem o meu público, pois já trabalhava com ele há alguns anos, então o primeiro curso que eu desenvolvi foi um curso de preparação para a Science Po.

Resumindo, você deve sonhar, logo em seguida definir seus objetivos e assim modelizar a estratégia, transformando tudo isso em um plano de ação. Uma ideia sem execução é uma alucinação 🙂

 

E as dificuldades? Elas eram fáceis de serem reconhecidas?

AB: O meu primeiro obstáculo foi a falta de recursos. Mas eu acho isso bom, porque você é forçado a ser mais criativo. Na época eu não tinha dinheiro para comprar um local e, por isso, eu falei com os meus conhecidos e pedi uma sala emprestada que não era usada na Paulista de final de semana, porque era um local de fácil acesso. Eu fiz isso durante seis meses, depois eu consegui juntar um dinheiro e alugar duas salas na Faria Lima. O fato de não ter muito dinheiro pode ajudar a buscar outras soluções criativas, como, por exemplo, reduzir o consumo de papel, já que, para cortar os gastos, mandava os materiais por e-mail.

O segundo obstáculo é que eu tinha zero conhecimento sobre gestão, marketing e planejamento financeiro, pois durante anos eu fui uma funcionária pública que ficava trancada na biblioteca. Nos primeiros momentos foi um período de aquisição acelerada de conhecimentos, por meio de livros e contatos. É isso que nós fazemos também no IFESP, nós temos a metodologia, ou seja, o conteúdo consumível, mas além disso, todas as pessoas que eu conhecia e que eu mobilizava me ajudaram a cortar o caminho e ir mais rápido rumo ao sonho.

Eu ia a muitos eventos e conhecia pessoas empreendedoras, eu sempre perguntava pra elas como elas fizeram.

 

Como você lidava com os erros e medos?

AB: Eu nunca tive problema em lidar com erros, eu sou uma pessoa que arrisca muito e que sempre tira lições dos erros. Por isso eu até gosto de errar, pois é uma prova pra mim que eu tenho a oportunidade de aprender.

O meu problema é lidar com medos. Eu tenho muitos medos mas eu não sabia identificá-los, então eu sentia o medo sem saber de onde ele estava vindo. Como eu lidei com isso? Foi complicado, eu era uma pessoa muito ansiosa e estressada, isso se refletia no meu estilo de manager, eu era muito rígida e chata, algo que eu não queria ser, mas eu não sabia lidar com o estresse.

Uma solução que eu achei no início foi o esporte, algo que poderia ser uma solução pra muita gente, mas eu admito que, na verdade, eu sou bem preguiçosa! Então, pra mim, o que mais funcionou foi o autoconhecimento, eu fiz muitos assessments que me deram ideias de quem sou eu, o que me motiva e como eu posso me energizar em situações de estresse etc. Algumas pessoas usam outras técnicas, como fazer terapia, por exemplo, mas eu queria algo mais rápido, então eu escolhi me formar em técnicas como programação neurolinguística e coaching, o que me ajudou a desenvolver novos eixos de trabalho no IFESP, mas também para eu me autoconhecer.

Recentemente eu fiz um assessment que nós vamos oferecer também no IFESP, sobre a resiliência. Nele eu descobri que até hoje eu cuido pouco de mim, no quesito alimentação e esporte. Isso não é muito bom, porque se você não está bem fica muito difícil de conseguir lidar com situações de emergência.

 

Você teve apoio dos seus familiares?

AB: Eu tive apoio constante, mas um apoio distante. Imagina, por exemplo, os brasileiros que vão para o Canadá ou para a França, eu fiz o caminho contrário. A solução que eu achei foi recriar o meu núcleo familiar onde eu moro, hoje eu falo que os meus amigos e quem trabalha comigo são a minha família. Não é a família de sangue, é uma família reinventada através da figura de amigos e colaboradores.

Os brasileiros às vezes têm medo de ficar longe da família, mas vocês vão achar outra família, vocês vão construir sua família e o melhor é que vocês vão poder escolher.

Às vezes eu falo do IFESP como uma família, porque quando eu criei a empresa sabendo que esse seria o lugar no qual eu ia passar a maior parte do meu tempo, por isso esse é um lugar que eu queria me sentir bem.

 

Como você se manteve motivada?

AB: Eu sou uma pessoa muito otimista e alegre mas, quando você monta uma empresa e tem que trabalhar muito nela, em alguns momentos você fica exausta, desgastada. Para eu me manter motivada nos piores momentos eu sempre mantive as minhas conexões, ou seja, pedir ajuda pras pessoas. Lembre-se daquele seu amigo ou parente que tem um bom perfil de escuta e bons conselhos e ligue pra ele.

Eu comecei a identificar também o que não me fazia bem. Algumas pessoas têm mais inteligência emocional do que eu e conseguem identificar facilmente isso, mas eu não, por isso eu fui buscar os assessments. Foi aí que eu descobri que o que me faz bem são os desafios. Tudo que eu não gosto de fazer eu coloco um desafio, um desafio por dia, por exemplo: hoje eu vou cuidar o e-social, amanhã eu vou fazer as compras no supermercado, amanhã eu vou consegui levantar 6h25 e às 6h35 eu estarei pronta para ir trabalhar etc. Isso funciona pra mim porque a minha principal fonte de motivação são os desafios, mas isso é 2% da população, então cada um tem que identificar o que te faz bem, procurar no passado o que te fazia bem, por exemplo, e usar isso para te manter motivada. 

Em algum momento da sua vida você pensou em desistir?

AB: Sim, inclusive em alguns momentos bem recentes eu pensei em desistir, porque eu ia perder uma grande parceira, isso me deixava com muito medo e com uma responsabilidade que eu não sabia se eu teria forças para assumir. Porque ter uma empresa com pessoas que dependem de você, do seu trabalho e da sua força é muita responsabilidade.

Então, em uma dada noite, eu acabei me levantando às 3h da manhã e eu escrevi no papel as três possibilidades que eu tinha. Depois eu fui anotando o pró e contra de cada uma e, no momento eu decidi pela alternativa C, que era parar, pois tudo aquilo estava me consumindo muito. Depois eu fui ver três pessoas nesse dia, três pessoas que eu admiro, que têm bons conselhos e que me querem bem, as três no término do dia tinham me feito mudar de ideia. Eu tinha saído dessas conversas com mais coragem e determinação, então eu escolhi o plano A que era continuar com a empresa. 

Se eu pudesse resumir tudo que eu falei em uma ideia seria: sair da zona do conforto só te traz coisas boas porque, se você está com essa pedra no sapato mas isso te acende uma luz de algo que você não sabe o que é, então faça tudo para ampliar essa luz, para que ela fique muito grande na sua cabeça e te preencha de energia. Porque a pedra no sapato, se você não faz nada com ela, em algum momento ela vai se transformar em uma bolha, que vai estourar e aí você só perdeu tempo com ela. 

 

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